domingo, 19 de dezembro de 2010

A REPRESENTAÇÃO CRISTÃ DE TIRADENTES: DE TRAIDOR NO BRASIL COLÔNIA A HERÓI NACIONAL REPUBLICANO.


A figura de Joaquim José da Silva Xavier, o “TIRADENTES”, é uma presença marcante nas aulas de história das séries da Educação Básica. O curioso é que, em um primeiro momento, ele é apresentado como traidor por sua participação na Inconfidência Mineira (1789), sendo inclusive condenado à morte por crime de “lesa-majestade”, e, em um segundo momento, ele é apresentado como herói nacional de nossa República instaurada em 1889. Mas, afinal de contas, como esse personagem, num espaço de 100 anos (1789-1889), vai de traidor a herói nacional, ganhando inclusive representações semelhantes à de Cristo?
A resposta para a pergunta acima deve ser formulada a partir do contexto histórico da Proclamação da República (1889). Quando nosso regime republicano foi instaurado não gozava de simpatia popular. Lembremos aqui que, o golpe republicano foi coordenado por parte de uma facção militar (MOCIDADE MILITAR), contando também com a participação de alguns republicanos civis, mas tudo muito longe de uma participação popular ativa. Murilo de Carvalho chegou a dizer que o povo assistiu a tudo “bestializados”. Somado a isso, o processo de secularização do Estado (separação entre Estado e Igreja) também contribuiu para que a República não conquistasse a simpatia popular. Logo, o regime que chegou ao poder em 1889 tinha uma difícil tarefa: Conquistar o apoio popular.
É nesse contexto que surge a figura heróica e messiânica de Tirandentes. Nossas autoridades republicanas aproveitaram o histórico de vida do nosso personagem, principalmente sua participação na Inconfidência Mineira (só para lembrar que este movimento buscava instaurar uma República independente de Portugal) para torná-lo o grande herói da Pátria que conhecemos hoje. Mas qual foi a estratégia que nossos republicanos utilizaram para transformá-lo em herói?
Ora, em um país de esmagadora maioria cristã como o nosso, qual a grande figura que se destaca quando falamos em justiça, salvação e libertação? Jesus Cristo. Pois ai está a estratégia republicana para tornar Tiradentes o grande herói nacional que conhecemos hoje. Como fizeram isso? Através de representações simbólicas: Tiradentes que provavelmente nunca teve barba, agora apresentava longas barbas. Também adicionaram um camisolão que o mesmo utilizava um pouco antes de sua execução. E assim, semelhante a Cristo, nascia nosso novo herói republicano nacional.

domingo, 12 de dezembro de 2010

"TENHO QUE APRENDER A CONVIVER COM ISSO. PARA ALGUMAS PESSOAS, GERA DESCONFORTO UM JORNALISTA ESCREVER UM LIVRO DE HISTÓRIA QUE VIRA BEST-SELLER".

A frase acima é parte de uma resposta de Laurentino Gomes quando questionado sobre a crítica de historiadores à sua obra “1822”, que inclusive virou um Best-seller.
O presente post pega carona nessa resposta para debater algumas questões polêmicas: A produção historiográfica deve ser exclusiva de historiadores? E você historiador, qual é a sua postura ao ver ou um jornalista, ou um advogado, ou um médico, escrever sobre História?
O autor deste blog tem um posicionamento: Se a pessoa tem competência para escrever sobre a temática pesquisada, que escreva. Entretanto, é compreensível sim que exista uma preocupação sobre a entrada de profissionais de outras áreas produzindo sobre História. Não se trata de simples “dor de cotovelo”, mas de uma preocupação legítima em resguardar nossa função e nossa área de atuação perante a sociedade.
Gosto muito de debater sobre leis, mas isso não faz de mim um advogado. Não estou criticando o sucesso de “1822” e nem seu autor, pois acredito que seja um jornalista muito competente. A vendagem de seu livro prova isso. O que defendo aqui é uma postura mais ativa dos profissionais de História para legitimarem suas atividades frente à sociedade. Ainda mais agora que nossa regulamentação profissional está tão próxima.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Livro apresenta a história do O.k., palavra mais falada do planeta


“Oquei”, a palavra “mais falada e digitada do planeta”, surgiu como uma piada. Foi como uma brincadeira que um jornal de Boston criou, em 1839, a expressão “O.k.”, que designava “tudo certo” e que se propagou a ponto de ser reconhecida hoje em qualquer parte do mundo. A origem “improvável” e a trajetória do termo são objeto de um estudo recém-publicado nos Estados Unidos. Segundo o linguista Allan Metcalf, autor do livro “OK”, ela é a invenção mais sensacional da língua inglesa, e é difícil explicar por que é tão bem sucedida.
“O.k. é muito incomum, e palavras incomuns dificilmente entram no vocabulário popular. Foi uma combinação muito estranha de coincidências que ajudou essa palavra, que surgiu como uma brincadeira, a se tornar tão importante”, disse, em entrevista ao G1.
Para ele, o som da combinação dessas duas letras é muito importante, e até mesmo o formato de OK, com uma letra tão redonda e outra tão pontiaguda, ajudou a prendê-la no vocabulário. “Outras palavras semelhantes, como OW, que foi uma opção criada na mesma época, não têm o mesmo efeito e não chegaram tão longe”, disse.
O som, “oquei”, também foi responsável pela divulgação internacional do termo, diz. Seu som é importante, pois quase todos os idiomas têm letras que soam similares ao O e ao K, e aceitam bem a combinação das duas.
História e versões
Nos anos 1930, um jornal de Boston tinha o hábito de brincar com o idioma e transformar expressões em siglas, novas palavras compostas pelas iniciais. Junto a termos ilegíveis como W.O.O.O.F.C. (with one of our first citizens - com um de nossos primeiros cidadãos) e R.T.B.S. (remais to be seen - Ainda precisa ser visto), a edição de 23 de março de 1839 trazia pela primeira vez o termo “o.k. – all correct”. Era uma brincadeira que trocava as primeiras letras do “all correct” (tudo certo), de acordo com o som delas na palavra. Uma brincadeira que gerou a palavra “mais bem sucedida da língua inglesa”, segundo Metcalf.
Esta história do termo, reforçada pelo livro de Metcalf, já foi comprovada por diversos estudos nos Estados Unidos. Mesmo assim, ao longo dos mais de 170 anos em que O.k. foi usada, não faltaram pesquisas a divulgar versões alternativas para o surgimento da palavra. “A história é tão simples que às vezes parece insultar nossa inteligência. Faz com que precisemos de algo mais interessante, mesmo que não seja verdadeiro”, justifica o linguista.
Em seu livro, Metcalf apresenta nada menos de que 18 dessas versões, tanto nos Estados Unidos quanto em outros idiomas. A que mais o surpreendeu, contou, era uma que dizia que O.k. era uma variação de “okeh”, um termo indígena usado pela tribo choctaw como "está certo", no fim das frases. “Essa versão enganou muitos professores de renome, e isso foi uma coisa muito estranha para mim.”
Tecnologia e futuro
O sucesso de O.k. está muito ligado à tecnologia, Metcalf explica. A palavra surgiu na mesma época em que se desenvolviam as primeiras formas de comunicação por telégrafo e se consolidou como termo de confirmação neste tipo de diálogo à distância. Com o advento da informática, ele ganhou ainda mais força ao se tornar sinônimo de “sim”, de “aceitar”, de “faça”, em comandos no computador.
À medida que a internet se consolidou, o modelo de criação de palavras com iniciais se tornou mais popular em todo o mundo. Em inglês, a cada dia aparecem novas siglas que são usadas como se fossem palavras, frases inteiras resumidas em poucas letras, para acelerar o diálogo.
Segundo Metcalf, entretanto, não há possibilidade de nenhuma dessas novas palavras ganhar a força que O.k. tem atualmente. “Não consigo imaginar que nenhuma outra palavra nova possa chegar perto de O.k. A palavra se tornou tão importante, que é quase impossível que algo semelhante aconteça novamente. O.k. é impressionante por isso. É o último dinossauro vivo dessa geração de palavras inventadas como piada nos anos 1830, e como último dinossauro, se tornou mais atraente, interessante e mais valorizada”, disse.
Filosofia
Metcalf não é modesto em sua defesa do O.k. Além de chamar a palavra de “a mais bem sucedida” e “mais falada”, ele diz que ela é “a resposta americana a Shakespeare. É uma filosofia inteira expressa em duas letras”.
O pesquisador explica que os americanos nunca foram muito afeitos a pesquisas filosóficas, e sempre preferiram estudos mais práticos e diretos. “O.k. representa este pragmatismo da mentalidade norte-americana, de querer que as coisas funcionem e completar os objetivos, mesmo que não busque a perfeição e a explicação para tudo”, disse.
Por outro lado, completou, graças ao livro “Eu estou O.k. Você está O.k.”, Best seller de autoajuda escrito por de Thomas A. Harris, “O.k. se tornou um símbolo da tolerância, que também é parte importante da nossa filosofia. Esta expressão estimula a ideia de que é aceitável ser diferente na sociedade, o que é bem importante em nossa filosofia.”
Fonte: Daniel Buarque do G1, em São Paulo. (http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/12/livro-apresenta-historia-do-ok-palavra-mais-falada-do-planeta.html)